Adhemar

Aos 36 anos, o ex-atacante Adhemar vive em Porto Feliz, a 120 km de São Paulo e coleciona histórias curiosas.
Além de encarar zagueiros, já precisou até driblar um técnico coreano para não apanhar. Da carreira que lhe rendeu frutos bem mais tarde do que o de costume, guarda lembranças de uma temporada especial. Em 2000, aos 28 anos, foi protagonista do início de uma das maiores ascensões de um clube de futebol do Brasil. Até aquele ano, o São Caetano era apenas mais um time pequeno em busca de espaço. Depois de conseguir o vice-campeonato do Módulo Amarelo da Copa João Havelange, chegou ao mata-mata e teve que encarar os grandes do futebol brasileiro. Dá para imaginar que Adhemar fez de tudo para não defender o Azulão? “Em 96, eu estava no São Bento, de Sorocaba, e enfrentamos o São Caetano. O Luís Pereira, ex-zagueiro e ídolo do Palmeiras, foi ao jogo e era o responsável por montar o São Caetano para 97. Ele me ligou para fazer a proposta e eu, com a mentalidade de um cara do interior, pensei: Não vou para São Paulo. Vão me roubar lá! Aí decidi pedir mais dinheiro para ele não me contratar. Era como se eu pedisse dez vezes mais do que eu ganhava. Quando dei o preço, ele perguntou se eu poderia me apresentar no dia seguinte. Aí não teve jeito”, conta. No time do ABC, foram anos de muito trabalho e uma evolução quase meteórica. Em 98, subiu da Série A-3 para a A-2 do Campeonato Paulista.
No ano seguinte, da Série C do Brasileirão para a Segundona. Duas temporadas mais tarde, lá estava o São Caetano na Série A do Paulistão e na fase decisiva da Copa João Havelange. Depois do vice-campeonato e a vaga na Libertadores, Adhemar foi para a Alemanha e, felizmente, estreou com o pé esquerdo pelo Stuttgart.
“Fiz 3 gols com o pé-esquerdo sobre o Kaiserslautern. É o recorde na estréia de um estrangeiro na Bundesliga. Conseguimos tirar o time do rebaixamento e disputar a Copa da Uefa no ano seguinte”, lembra, orgulhoso. No fim de 2002, voltou ao Brasil para vestir novamente a camisa do São Caetano, mas em 2004 se transferiu para o Seongnan, da Coréia do Sul. Naquele país, foi obrigado a experimentar algumas iguarias e conviver com costumes um pouco estranhos. “Tive que provar a carne de cachorro. Engoli a seco, não consegui mastigar. Sorte que era pequeno o pedaço. Mas isso não era nada perto do que eu vivia no time.
O treinador entrava no vestiário e batia nos jogadores.
Lá existe esta tradição. Quando dava o intervalo e o time estava perdendo, eu corria para o banheiro e dizia que estava com diarréia". O método não agradou, e Adhemar voltou ao Brasil um ano mais tarde e novamente para o São Caetano. Só que desta vez a passagem seria relâmpago.
O Japão seria o próximo destino, mas a última parada.
Adhemar Ferreira de Camargo Neto nasceu em
Tatuí-SP, no dia 27 de Abril de 1972, mas começou a carreira em Porto Feliz-SP, aos 17 anos. Na cidade, mantém o projeto social Bom de bola, bom na escola. Oitenta crianças são atendidas, mas para participar das atividades precisa ter média sete na escola.
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