O melhor parceiro de Pelé, no Santos, era gordinho. Ganhava dos zagueiros, perdia da balança. Mas era o melhor parceiro de Pelé. Coutinho conseguia, apesar da pancinha, tabelar com o Rei e fazer gols de cinema. Durante dez anos na Vila Belmiro fez quase 400 gols.
E se fosse magro, teria feito quantos? – pergunta o calhorda da esquina.
Calhordas não merecem resposta.
Ao contrário de vários jogadores que, quando gordinhos, perdiam agilidade e ganhavam fama ruim, Coutinho foi desafiando a lógica das calorias e entrou para a história.
Ronaldo, que viu o apelido “Fenômeno” ser trocado no fim da carreira pelo pejorativo “O gordo”, também calou a boca dos nutricionistas fazendo um punhado de gols pelo Corinthians.
Mas o texto é sobre o novo Coutinho.
Walter.
Neste primeiro turno do Brasileirão, é um dos jogadores mais elogiados. Vem encantando cronistas, assustando zagueiros e inspirando a torcida do Goiás.
Ele sabe que está acima do peso. Ganhou o apelido de Tufão. Tem quase 1,80m e mais de 90 quilos. Intrigas da oposição dizem que chegou a pesar 100 quilos quando foi jogar no Porto.
Walter pede que mudem o disco, pois não agüenta mais falar sobre o assunto.
Mas não tem jeito. O pernambucano que surgiu na base do Internacional, fez sucesso, parou na seleção brasileira sub-20, foi vendido ao Porto e teve uma passagem fugaz no Cruzeiro, já tem uma carreira andarilha aos 24 anos. Culpa da barriga ou da desconfiança dos departamentos médicos.
Em Goiânia, dizem as boas línguas, Walter adora se jogar de cabeça nos prazeres dionisíacos do… refrigerante! Sim, senhores, Walter adora refrigerante.
- Como muita besteira também à noite. Biscoitos recheados, por exemplo – confessa.
O departamento médico, o preparador físico e o fisiologista do Goiás sabem que tem um desafio pela frente. Porém, são sensíveis o suficiente para entender porque Walter come tanto. Porque era pobre.
Simples assim.
Walter teve infância difícil, namorou a fome e venceu na vida engolindo sapo. Enquanto meninos de Boa Viagem tomavam iogurte, ele comia o pão que o diabo amassou. Como muitos jogadores, lutou, pegou ônibus, andou a pé, enfrentou dificuldades, pensou em desistir, mas chegou lá. É jogador de futebol, com um bom salário e vida digna.
Habilidoso, driblador, chute forte e passe preciso, Walter é olhado pelas hárpias pessimistas como uma espécie de talento prestes a ser desperdiçado. Só que a lógica da magreza, que aliás leva a neurose muitas mulheres vítimas deste padrão besta de beleza, está sendo substituído pelo “mistério do gordinho”.
Quem sabe veremos carros desfilando pelas ruas com o plástico “Sou gordo, mas sou craque”? Em seguida, “Sou gorda, mas sou gostosa”. E a tirania do padrão quebre a cara mais uma vez.
Que possamos sempre chamar Walter de “o novo Coutinho”.
Pois quem engorda para ser abatido é boi. E não candidato a craque.
Viva o Gordo.
vdk
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===Gloriosa (103)===
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