14 janeiro 2008

Mané (1933-1983)

A força do carisma do Anjo das Pernas Tortas ficou marcada nas palavras do grande poeta Carlos Drummond de Andrade: Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Há 25 anos, no dia 20 de Janeiro de 1983, o Santo Mané das Pernas Tortas foi derrotado pelo marcador fatal: o álcool.
Deus escreve certo com linhas tortas.
Garrincha driblava certo com pernas tortas.
Foi assim desde sempre.
Sua primeira vítima foi a parteira.
Quando nasceu, logo driblou-a.
Quando moleque, sempre descalço, sempre, pé cascudo, driblava os bichos.
Rolinhas, juritis, caga-sebos, beija-flores.

Coelhos, gambás, cotias, preás.
Nada escapava.
O pequeno Manuel não perdoava.
Não perdoava também os moleques da rua.
Aos 7 anos, era o melhor nas peladas.
Driblou as professoras.
Matava aula para fazer o que mais gostava: caçar, pescar, jogar bola.
Reprovado.
Driblava os patrões.

Na fábrica, aos 14, ou faltava ao trabalho, ou dormia nas caixas de algodão alojadas no porão. Demitido.
Readmitido, para poder jogar pelo time da cidade.
Driblou o Exército.
Sem fazer forças.
O sargento o dispensou, pois considerou que o garoto era portador de "defeito físico".
Aos 19, o primeiro contrato.

O sujeito de Pau Grande, de pau grande, de novo driblou.
Desta vez, o alvo foi o maior lateral-esquerdo do mundo.

Nem a Enciclopédia escapou de Mané.
Daí para frente, driblou marcadores infinitos.
Joãos. Inúmeros.
Joãos, Josés, Jordans.

Não só no gramado do Maracanã.
Não só nos gramados do Brasil.
Sofreram também os gringos.

Driblou nos gramados suecos.
Johns, Josephs, Johanssons.
Galanteador nato, também driblou a mulher.
As mulheres. Inúmeras.
Joanas, Marias, Elzas.
Voltou a driblar nos tapetes chilenos.

Botou todos no chinelo. Todos. Sozinho.
Garrincha era isso: um driblador.

Um brasileiro driblador.
Sozinho, driblava. Driblava a todos. E a tudo.
Só teve um marcador de verdade em toda vida.

O único que foi capaz de pará-lo.
Manuel Francisco dos Santos, o Garrincha, o Mané, o Anjo das Pernas Tortas, a Alegria do Povo, com toda sua genialidade, não conseguiu driblar seu perseguidor letal: o álcool.
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Um paulista, trabalhando pesado, suado, terno e gravata, vê um baiano deitado numa rede, na maior folga. O paulista não resiste e cutuca:
- Você sabia que a preguiça é um dos sete pecados capitais?

E o baiano, sem nem se mexer, responde:
- A inveja também!!...
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7 comentários:

Pédre Cóshta disse...

Garrincha é o jogador que eu tenho mais pena de não ter visto jogar.

Pensei que não houvesse muitos registos vídeo dele.
Por isso, nunca tinha procurado.

Mas, hoje, conde o noblíssim Chique falou de Garrincha, é fui prócrár por víd'sh del' na net. E na é que há alguns?!!!
Então, é tenh'eshtád d'lêtád a vér o Mané entortant os Joãos.

Esht vídi foi o qué másh góshtê:
http://www.youtube.com/watch?v=r_V6y5P050M&feature=related

abraces, noblíssim baian e nom mensh noblíssim ir'cénse!!!

Anônimo disse...

Eita cabra bom da gota serena....
Quando o Mané deixou o Bota, se não engano em 65, diz aí chicão!!!
Eu começava a frequentar o Maraca, com meus 15/16 anos, pobre pobre de marrédeci, só podia ir de geral e quase não via os jogadores, quanto tempo se vai!!!!!!
Eu pouco vi do mané mas como deixou saudades, realmente ele driblou quase tudo, menos o álcool.
Conta a história que o NS (enciclopédia) foi quem o contratou, dizia ele: Não quero esse cara em outro time, pois não conseguirei marcá-lo.
Diz aí Arcanjo, o Bota estréia quando e com quem?????
Abs, Tarcisio

Zêro Blue disse...

Grande e bela homenagem ao Mané Garrincha que reputo seja junto com Pelé nosso maior ídolo.
A homenagem ficou ainda mais brilhante com a citação poética do grande Mineiro, CRUZEIRENSE e meu XARÁ, Carlos Drumond de Andrade.
Muito bom Chico. Parabéns também pela piada do baiano, valeu, a vida não é só trabalho....
Chico meu nobre ....

Conto com sua visita e de seus leitores, o blog hoje 14/01/2008 trás uma matéria bacana e inédita com uma grande atleta brasileira, confira:
Saudações Celestes
NÃO PERCAM
Entrevista exclusiva com Atleta da Sel. Brasileira de Vôlei
ENTREM E SINTAM-SE A VONTADE

Anônimo disse...

Chicão, meu bom. vamo lá.
.
O "busão' do Fogão é de mentirinha?
Dancei. KKKKKKKK.
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Tenho 50 e nunca tive oportunidade de ver o Mané jogar. Uma pena.
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A piada do paulista é muito boa.
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Tem uma outra:
O sujeito da cidade tava passeando com seu carrão pela roça, no meio dos sítios, quando viu o caipira plantando, campinando a roça e quiz tirar uma onda:
- Tá vendo o caipira, a diferença que existe entre nós da cidade e vocês da roça. Vocês plantam pra nós comer.
.
O Caipira responde:
- Moço, os ceis pode cumê memo, purque eu tô plantando capim, sô.
. Salve o Fogão.
. Salve o Verdão.
Abraços verde-esperança.
Odair Porcolino.

snoopy em p/b disse...

lindo texto, kombeiro.
dá-lhe mané garrincha!!!

saudações botafoguenses!!!

Chico da Kombi disse...

Noblissim'Pedro, obrigado pelo vídeo do Mané. Abraces.

Tarcisão, o último jogo do Garrincha com a camisa 7 do Fogão foi no dia 15/09/1965:
Botafogo 2x1 Portuguesa-RJ.
Força Fogão.
Abraço.

Caro Carlão,
Abraço azul.

Caro Porcolino,
Muito boa a piada do matuto. Obrigado e abraço verdolengo.

Saudações alvinegras, caro Snoopy.

Gerson Sicca disse...

Bonita lembrança. Parabéns Chico.