Grêmio Atlético Sampaio - GAS

O Grêmio Atlético Sampaio desbanca o Íbis-PE. É o pior time do mundo. Conhecido como GAS, o time de Boa Vista, capital de Roraima, não ganha - e está sem marcar gols - há 19 rodadas.
O Campeonato Roraimense de Futebol tem algumas características próprias. Uma delas é de ter o menor público do Brasil, média de 50 pagantes por rodada dupla realizada aos sábados à tarde. A outra acontece de dois anos para cá: o Grêmio Atlético Sampaio-GAS tem sido a atração, não por grandes campanhas, mas por ser o pior time da competição. Consegue desbancar o pernambucano Íbis, que já foi o pior time do mundo. Sua última vitória aconteceu em 8 de maio de 2004, quando derrotou o atual campeão, São Raimundo: 4 a 0. De lá para cá são 19 rodadas e dois campeonatos (o de 2005 inteiro e todo o 1.º turno da competição de 2006), sem ao menos fazer um gol.
Fundado em 1965, este clube tem origem entre os militares do Exército que chegaram a Roraima naquele tempo. Um dos líderes do grupo que criou o time, Agenor Sampaio, ainda é o presidente. A sede é na sua casa onde a empregada é a responsável por lavar e passar o uniforme dos jogadores.
Tal abnegação ganhou um aliado, Jander Vicente Cavalcante Ramalho, genro de Agenor e hoje o faz tudo do time. É na pampa de Jander que os jogadores vão aos jogos. A maioria deles mora na periferia de Boa Vista e sonha apenas em "bater uma bolinha nos finais de semana". Coisa que nem sequer existe mais no futebol amador das grandes cidades brasileiras.
O elenco é formado por profissionais de diversas áreas. Tem pintor de parede, o atacante Emanuel. Aos 41 anos, é visto como o "Romário do Lavrado", embora não faça gols. O zagueiro Adriano é teólogo e o goleiro Goiano vive de trabalhos informais. É a vítima preferencial dos atacantes, porque em 8 jogos deste ano, levou 21 gols. Para justificar as derrotas, Goiano utiliza do humor. "Existe urucubaca muito grande contra nós".
Treino é coisa rara. Às vezes o elenco se reúne um dia antes das partidas para fazer movimentação em algum campo da capital - na Universidade Federal de Roraima ou na Escola Técnica Federal. De acordo com o vice-presidente, Jander, o clube não recebe ajuda. "Somente minha, que sou funcionário público e de meu sogro".
Ele alega ser boicotado pelo presidente da Federação Roraimense de Futebol, Zeca Xaud, no poder há 34 anos. "Nos prejudica por sermos os únicos a fazer oposição. Os outros sete vivem bem com ele."
Jander ironiza Xaud. "Às vezes ele nos oferece ajuda, do tipo R$ 180,00 ou R$ 200,00, mas isso é brincadeira", ressalva, garantindo também que, para os treinos deste campeonato, ele ganhou sete bolas (único material de que o elenco dispõe). Nos dias dos jogos há uma catação, tanto para ir ao estádio como para os atletas voltarem para casa, nos bairros da periferia.
Dinheiro? Nem em sonho. "Quando algum jogador está com dificuldades, arrumamos cesta básica ou algo de alimento. Nada mais”. Mas o vice-presidente se vangloria: "Somos o único time formado por jogadores da terra. Temos atletas de 17 a 41 anos”.

Texto de Zequinha Neto, O ESTADO DE SÃO PAULO