A dor do cocho é não ter ração pro gado
A dor do gado é não achar capim no pasto
A dor do pasto é não ver chuva a tanto tempo
A dor do tempo é correr junto da morte
A dor da morte é não acabar com os nordestinos
A dor dos nordestinos é ter as penas exageradas
E a viola por desculpa pra quem lhe pisou no lombo
e lhe lascou no cucurute vinte quilos de lajedo.
Em vez de achatar pra caixa-prego o vagabundo,
que se deitou no trono e acordou num pau-de-sebo.
Eh eh eh boi, eh boiada, eh eh boi
A dor do jegue, tadin, nasceu sem chifre
A dor do chifre é não nascer em certa gente
A dor da gente é confiar demais nos outros
A dor dos outros é que nem todo mundo é besta
A dor da besta é não parir pra ter seu filho
A dor pior de um filho é chorar e mãe não ver.
Tá chegando o fim das épocas, vai pegar fogo no mundo,
e o pior, que os vagabundos toca música estrangeira
em vez de aproveitar o que é da gente do Nordeste.
Vou chamar de mentiroso quem dizer que é cabra da peste.
A dor do sol é que ele não conhece a noite
A dor da noite é que não tem mais seresteiro
A dor do seresteiro é o medo da polícia
A dor da polícia é ter ladrão no mundo inteiro
A dor do mundo inteiro é que tá chegando gringo
A dor pior de um gringo é outro gringo do outro lado
Não sei se tô errado mas arrisco meu palpite
de acabar com as bombas "atromba", encoivarar os rifles,
tocar fogo em toda tenda que é de fabricar canhão.
Morre muito menos gente se a guerra for de facão...
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Composição de Wilson Aragão, baiano de Piritiba, autor também de Capim Guiné, em parceria com o saudoso Raul Maluco Seixas.
Um comentário:
Bom demais, Hélio!
Principalmente os três primeiros versos, que me doem só de lembrar.
Pois, hoje, a minha dor é ver as vacas sem pasto e a poeira cobrindo as folhas.
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