03 julho 2020

VDK-4800

Garrincha – Manuel Francisco dos Santos – era um camponês com o apelido de um passarinho raro e arisco.
Menino de 19 anos, moreno, com as pernas incrivelmente arqueadas e tortas, protegidas e movidas por uma poderosa massa muscular, considerada aberração pelos professores de anatomia.
Apareceu de repente.
E, de repente, os estádios cariocas melhoraram de humor. 
Puseram-se a rir, outra vez.
Risos que de repente também ganharam a força das gargalhadas: de uma alegria incrivelmente contagiante e reparadora.
Obra de um camponês simples, imaturo, alegre, rival do talento histriônico do melhor Charles Chaplin.
Alguém que não se limitava a contrariar as leis da estética e da gravidade.
Não respeitava, sequer, a lógica e o convencional do jogo. Estranho driblados de um drible só.
O drible pensado, planejado, ensaiado, previsto e executado infalivelmente pelo lado direito.
Um individualista que, ao receber um passe, nunca lhe dava seqüência, sem antes divertir-se um pouco com a bola, com o adversário e, assim, divertir a platéia.
Mas que estranho individualista esse que, em seguida, se transformava no mais generoso doador de passes e de gols conhecido pelo futebol mundial.
Garrincha foi tudo isso para os estádios do Brasil.
(Texto de A.NETTO/Jornal do Brasil, 23/01/1983)
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