Menino de 19
anos, moreno, com as pernas incrivelmente arqueadas e tortas, protegidas e
movidas por uma poderosa massa muscular, considerada aberração pelos
professores de anatomia.
Apareceu de
repente.
E, de
repente, os estádios cariocas melhoraram de humor.
Puseram-se a rir, outra vez.
Risos que de
repente também ganharam a força das gargalhadas: de uma alegria incrivelmente
contagiante e reparadora.
Obra de um
camponês simples, imaturo, alegre, rival do talento histriônico do melhor
Charles Chaplin.
Alguém que
não se limitava a contrariar as leis da estética e da gravidade.
Não respeitava,
sequer, a lógica e o convencional do jogo. Estranho driblados de um drible só.
O drible pensado,
planejado, ensaiado, previsto e executado infalivelmente pelo lado direito.
Um
individualista que, ao receber um passe, nunca lhe dava seqüência, sem antes
divertir-se um pouco com a bola, com o adversário e, assim, divertir a platéia.
Mas que estranho
individualista esse que, em seguida, se transformava no mais generoso doador de
passes e de gols conhecido pelo futebol mundial.
Garrincha foi
tudo isso para os estádios do Brasil.
(Texto de A.NETTO/Jornal do Brasil, 23/01/1983)
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