R$ 01.898.390,00 – Botafogo 2x1 Colo-Colo-CHI
R$ 01.390.210,00 – Botafogo 1x0 Olímpia-PAR
R$ 01.723.825,00 – Botafogo 2x1 Estudiantes-ARG
R$ 01.520.630,00 – Botafogo 0x2 Barcelona-EQU
R$ 01.252.810,00 – Botafogo 1x0 Atlético Nacional-COL
R$ 02.479.795,00 – Botafogo 2x0 Nacional-URU
R$ 10.265.660,00 – Total
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33
No bar, já com algumas
rodadas de chope, começaram a brincar de voltar no tempo. Mas com destino
específico: voltar a determinado jogo a que tinham assistido, seja no estádio,
seja na televisão.
Um falou do Brasil 4 a
1 Itália em 1970. Todos fizeram “ah!”, expressando aprovação e saudade. Ele
tinha dez anos, ficava ao lado da TV arrumando a antena e o controle das
horizontais. A sala cheia, os gritos, as bandeirinhas de papel, as pessoas na
rua depois do jogo, o sol, o domingo que nunca mais acabaria.
Outro estalou os dedos
e citou Botafogo 6 a 0 Flamengo em 1972. Mas não era botafoguense e sim
flamenguista. Sete anos de idade, a camisa do time, a dor de cada gol rasgando
um pouco sua camisa e seu peito – logo era noite, o choro em soluços, a escola
no dia seguinte com as gozações que ainda ressoavam na sua cabeça.
“Não tem
comparação”, disse outro: “Corinthians 1 a 0 Ponte Preta, em 1977, gol do
Basílio”. Notou-se sua emoção ao descrever o lance, os saltos nos chutes que
antecederam o arremate fatal do “pé-de-anjo”, o grito rouco, já era rapazinho,
o pai até o deixara tomar um copo de cerveja, ficou ouvindo rádio até não haver
mais assunto, redesenhando na mente, deitado, todo o lance.
Surgiram clássicos
Atlético x Cruzeiro, Grêmio x Internacional, o Brasil 2 a 3 Itália de 1982 –
que provocou lamentos, xingamentos e até um choro, aplacado com um gole grande
e uns tapinhas nas costas. E outros tantos jogos, às vezes citados ao mesmo
tempo, causando certa alegria em uns, tristeza em outros, mas sempre com a aura
de “que jogo, que jogo!”.
Só um, calado, apenas
olhando, bebericando, não citou nenhum. Notaram. “E você, nenhum jogo? Logo o
mais fanático por futebol? Não tem nenhum que você gostaria de voltar pra ver?”
Recostou-se, escorreu
o corpo na cadeira, passou as duas mãos nos cabelos, suspirou. Todos o olhavam.
“Tem”, respondeu.
“Eu era pequeno, no interior. Domingo de manhã fui pela primeira vez ver meu pai jogar na várzea. Ao
lado do meu tio, vi o poeirão subindo nas disputas de bola, os
empurra-empurras, os palavrões da torcida e dos jogadores, meu pai no banco, aguardando.
Ele olhava pra mim às vezes, dava tchau. Eu perguntava pro meu tio se ele não
ia jogar. ‘Vai, sim, já, já ele entra.’”
“Ganhei picolé,
bala, biscoito de polvilho. O jogo já durava a vida inteira. Até que o vi se
levantar do banco, arrumar o meião, ficar à beira do campo. Quando ele entrou
meu coração virou um balão, subiu ao céu, planou sobre o mundo todo. E o vi
correndo, dominando a bola, chutando. Era meu pai. Deu um carrinho que
a torcida aplaudiu. Uma cabeçada que me pareceu que ele subira mais alto que um
super-herói. Era meu pai.”
Na mesa, todos em
atenção total. Nem mexiam nos copos.
“E acabou o jogo.
Não sei quanto ficou. Sei que fui encontrá-lo. Ele suado, a camisa com o número
3 nas costas, a chuteira velha, a barba rala, o cheiro, a aliança apertando o
dedo já mais gordo, os pelos nas pernas. Era meu pai.”
Bebeu um gole.
“Nunca mais fui
ver. Ele também parou de jogar logo depois. Só o via depois com a roupa de
trabalho: camisa, calça, sapato e a pastinha de vendedor. A mesma com que foi
enterrado – sem a pastinha, claro.”
Fechou os olhos. Todos
calados. “Eu queria voltar a esse jogo. Só pra gritar o que eu não gritei
naquele dia. Queria gritar alto: ‘É meu pai! É meu pai!”. Não sei por que
não gritei. Fiquei só olhando. Ele, às vezes, no campo, olhava pra mim. Sempre
sonho que ele esperava que eu gritasse. Mas não gritei.”
Olhou em volta, bateu
na mesa com as duas mãos. “Agora já era. Não dá mais.”
Uns segundos de
silêncio.
Pediram a conta. Foram
embora.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)
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